“Um ser humano tem o direito de viver com dignidade, igualdade e segurança. Não pode haver segurança sem uma paz verdadeira, e a paz precisa ser construída sobre a base firme dos direitos humanos”.
Há dez anos morria num atentado em Bagdá
um dos mais nobres homens de quem eu já ouvi falar. Sérgio Vieira de Mello, carioca internacionalmente conhecido como Sérgio, era o Alto Comissário da ONU para os Direitos Humanos. Entrou logo que terminou a faculdade (onde lutou nas barricadas da Sorbonne em 1968) nessa instituição, viajando o mundo e trabalhando incansavelmente para ajudar as pessoas por décadas. Comandou a política de refugiados no Camboja, tendo a coragem e habilidade para negociar com o Khmer Rouge para melhorar as condições dos refugiados. Trabalhou também com os refugiados nas repúblicas que nasciam do desmembramento da Iugoslávia. Mas esses são apenas exemplos de um extenso curriculum. Do Chipre ao Sudão, de Bangladesh ao Líbano, lá estava Sérgio, nas palavras de Koffi Annan “Por que você nunca parecia cansado enquanto trabalhava 18 horas por dia? Por que nunca ficava doente? Por que nunca ficava irritado? E você era o único funcionário do alto escalão da ONU a ser conhecido pelo primeiro nome (…)”. A simplicidade, o pragmatismo, a flexibilidade e o carisma de Sérgio faziam dele “o homem certo para resolver qualquer problema” nas palavras de Koffi Annan. Sempre em missões de campo, disposto a ouvir as outras pessoas para entender sua situação e assim ajudá-las, acabou nomeado simbolicamente o vice-rei do Timor-Leste, quando convidou espontaneamente os timorenses para ajudá-lo a governar o país durante a transição que levou à independência daquela nação em 2002. Esse era Sérgio, que até o último minuto de sua vida se preocupava com as outras pessoas. Morreu num atentado com outros 20 funcionários da ONU, perguntando até o último momento sobre o estado de seus colegas. Morreu levando consigo a esperança de uma ONU que fosse mais ativa e defendesse os mais necessitados, mundo afora. Seu legado incrível inspira não só a mim, mas a muitos outros, a lutar por um mundo melhor, mais justo, onde as pessoas tenham dignidade.
Um obrigado ao Sérgio, por tudo que realizou, como realizou, deixando um exemplo que eu espero poder seguir e honrar um dia.
Caio Duarte (3H3)