Pessoa
As estrelas são apenas pontos
Que quando não há lua iluminam a noite
E quando não há bússola indicam o caminho.
Os homens que veem nas estrelas seus amores e escrevem poemas para elas
Transformam o que deveria ser um astro iluminado em pensamentos inúteis e vagos.
Esses homens são tristes,
Pois tentam ver o invisível e esquecem de enxergar o que existe.
E as estrelas que vejo sentado na grama são apenas estrelas,
Cousas inalcançáveis que recobrem o céu
Que nada significam.
Enquanto as olho, espero o raiar,
Que as vai matar, decerto.
Quero olhá-las e as admirar pra sempre,
Pois só assim poderei afastar-me
Desse mortal que sou e olhar os deuses
Que nelas aparecem.
Colhamos as estrelas e guardemos
Seu brilho de alabastro e de marfim,
Porque a vida passa, Lídia, amada,
Mas a luz permanece.
E cada estrela é um pedaço meu,
Um pedaço do meu eu destroçado,
Que encontra a fuga somente no céu
E a cura no ópio, sol desgraçado.
Olho o céu estrelado e me identifico em cada brilho,
Pois se juntasse todos talvez surgisse um ser igual a mim.
Quem dera poder estraçalhar-me assim no firmamento,
Ser rasgado no peito por uma força tão intensa quanto a de uma máquina,
Sentir o meu corpo a se dilacerar e se tornar um milhão de estrelas.
Ó! O quão bom seria
Se cada parte de mim que não a mim pertence recebesse um brilho próprio
Para ser seu próprio eu destroçado,
Se cada parte de mim que não a mim pertence virasse um novo ser.
O quão bom seria se cada estrela que de mim saísse,
Com um brilho incompreendido, renegado, desiludido,
Se desvencilhasse e virasse
Um novo Pessoa.
Flávia Odenheimer, 3B2