Por Ângela Nogueira, do Idade Midia
“Estou doente… doente de amor. Se me toca, eu viro água.” Essa frase de Doralda, personagem de Guimarães Rosa, interpretada por Elena Costa, faz parte da montagem Corpo de Baile do grupo de teatro paulistano Boi Voador. A atriz, mineira, que veio para São Paulo aos 17 anos mudou-se depois para Nova York para estudar atuação e perseguir uma carreira no cinema.
No entanto, este texto não trata das peças – como essa – encenadas por Elena, mas sim do longa que leva seu nome, dirigido por sua irmã mais nova. Ao chegar da escola nova-iorquina onde estudava há alguns meses, numa tarde de dezembro de 1990, Petra, então com 7 anos, encontrou a mãe com uma expressão transtornada. A irmã atriz, de 20, havia tomado um vidro inteiro de aspirinas e cachaça. Suicidara-se.
Anos depois, já tendo seguido a mesma profissão de Elena – como ela própria conta, matriculou-se no curso de teatro da Columbia University, em Nova York – Petra decidiu procurar a irmã para conta-la em um filme. O resultado, feito com filmagens antigas – dentre as quais uma linda cena em que uma Elena adolescente dança de camisola na sala do que parece ser sua casa, entrevistas com a mãe, cenas gravadas por atrizes e uma trilha sonora praticamente inteira original, é espetacular.
Não se trata de um documentário nos moldes aos quais estamos acostumados. Cenas como a das mulheres na água, uma representação da “morte de Ofélia”, referência à personagem shakespeariana de Othello, são – além de lindas – extremamente impactantes. Não é um filme sobre suicídio, tampouco para se racionalizar. Elena é emoção na sua forma mais pura. E como não poderia deixar de ser, as reações do público são condizentes com essa condição.
Uma parceria entre o projeto Idade Mídia, vinculado ao Programa Cidadania, e o Departamento Cultural trouxe não só o longa direto dos cinemas para a sala A31, como a própria Petra para uma conversa com os alunos. As perguntas variaram desde as mais emocionais – algumas interrompidas inclusive pelo choro das alunas que as faziam – como “Qual foi a cena mais difícil de gravar?” e “Como está sua mãe agora?” até dúvidas mais técnicas, como a composição da trilha sonora. Vitor Batista, da 3H3, perguntou se podia dar um abraço em Petra.