Eu, Pilar,
Quero me desculpar
Por a cola passar
E com a pratinha ficar.
Eis aqui minha explicação:
Caí em tentação.
Então lhe peço de coração,
Aceite minha correção.
Com esse poema, consegui tirar um pequeno e acanhado sorriso do professor Policarpo – o que, para nós alunos, era tido como milagre – e fazer minha mãe perceber que, apesar das minhas poucas virtudes, o meu aprendizado ia muito bem.
Depois de um dia péssimo, nunca imaginei que as coisas poderiam piorar. Enquanto estava na rua, seguindo o tambor dos fuzileiros, minha mãe tinha ido à escola procurar o professor Policarpo para pedir conselhos para melhorar meu desempenho. Não só descobriu que eu não estava na escola, como também a verdadeira razão das minhas mãos inchadas. O fim do mundo se aproximava. Mas era tão bonito o rufar do tambor…
Cheguei a casa no horário habitual, como se realmente tivesse ido à escola. Mas algo em minha mãe soava estranho. Ela estava sentada na cadeira de balanço da vovó chorando. Nunca havia reparado quão verdes eram os olhos de dona Ester. Olhos dignos, verdadeiros, corajosos e, acima de tudo, acalentadores. A face antes sedosa e clara estava enrugada, os cabelos loiros e longos… Mas os olhos eram fantásticos, surpreendentes.
Acho que ela chorava por se sentir impotente, incapaz de me dar boa educação… Afinal, um filho desonesto não seria bem visto por aqueles olhos tão dignos. Ester chorava. Percebi que ela sabia de tudo… E agora? Fiquei alguns minutos perdido no silêncio e admirando aquela figura tão íntegra sofrendo. Descobri que eu tinha sim aprendido muito na escola e mais ainda na vida. Não poderia magoá-la ainda mais.
Fui ao seu encontro e, entre olhares e abraços, também comecei a chorar.
─ Mãe! Desculpe! Não fui capaz de agir conforme o que você me ensinou. Errei!
Depois de uma pausa, ela olhou para mim e seus olhos me falaram com a voz de seu coração. Ela me abraçou. Mesmo sem emitir nenhum som, me passou um dos meus maiores sermões.
Restava o professor, mas, para com ele, a desculpa não veio no silêncio e sim na poesia.
Paulo, David, Rafael; 8C