É por meio desta que venho declarar publicamente meu sincero desentendimento. Por que devo arrumar meu quarto? Ou melhor, por que devo arrumar meu quarto quando minha mãe quer? Não vejo qualquer motivo para arrumar esta pequena porção de área – que não deve ter seus trinta metros quadrados – ainda mais por ordem de outrem, quando o espaço, na verdade, é dado como meu. Não está em discussão quem paga as contas e quem manda. Está em discussão o fato do quarto ser meu e eu ter o direito irrevogável de mantê-lo do jeito que eu bem quiser.
A casa é da minha mãe, de fato. Mas o quarto é meu. Minha progenitora, no entanto, nega constantemente a minha completa posse sobre o dormitório, algo completamente contraditório já que ouço diariamente seus berros de “volte já para o seu quarto!”. Quando diz “seu quarto”, fica claro que o quarto é meu e não dela, sendo assim, posso muito bem tomá-lo, desorganizá-lo, redesorganizá-lo, tudo sem a menor preocupação com os achismos dos outros.
Além do mais, meu quarto não está bagunçado. É claro que tenho uma ou outra coisa fora do lugar, mas nada que seja impossível de entrar ou sair… Também não está em discussão o período de entrada e saída do quarto, já que em qualquer lugar que qualquer um entrar de noite, com certeza vai chutar algo. Não que no meu quarto se chute uma coisa apenas, mas não é algo alarmante, já que não tenho coisas de valores consideráveis. Também devemos levar em conta que não é só de noite que se chuta algo ao entrar, mas isso é uma informação extremamente desnecessária para o momento.
Minha mãe utiliza como desculpa o fato dos parentes virem até nossa casa jantar duas vezes por mês e, assim, o quarto deveria estar arrumado para recebe-los, algo que não vejo menor fundamento, já que nunca entram no meu quarto. Tenho que admitir, porém, que dá para ver uma fresta do meu singelo espaço de dormir da sala, mas só se o sujeito estiver ao lado do vaso que se encontra à direita da porta do lavabo. Mas como ninguém nunca sai do toalete e fica parado observando os fundos da casa, essa justificativa pode ser descartada sem dúvidas.
Não há o que discutir. Sou um garoto maduro, quase em seus 13 anos de idade… Não tem como contestar minhas ideias, pensamentos e certezas, até porque tenho total clareza das minhas responsabilidades (às quais não está inserida “arrumar o quarto”) por ser um garoto vivido, autoritário e muito inteligente, de fato.
Gostaria, então, de colocar um ponto final em toda essa discussão. Não vou arrumar meu quarto, quer queira quer não. Sem mais delongas, vou tomar um banho que minha mãe está mandando.
Eduardo Finci Kreimer, 3H3