Por André Bolini, 3B1
“O monstro que assombrou o Brasil desde o fim da Segunda Guerra Mundial até a década de 1990 voltou a aparecer no vocabulário do brasileiro que vai às compras: a inflação. O tomate, que teve um aumento de 120%, passou a ilustrar a situação econômica do país via charges e piadas na internet. Mas o assunto está longe de ser engraçado: o dinheiro que ontem comprava 5 tomates, hoje compra uma mísera fatia e leva boa parte da renda dos mais pobres para os confins do universo.
De acordo com o IPCA, a inflação acumulada dos últimos 12 meses já chega aos 6,59%, enquanto, segundo a meta estabelecida pelo governo, o teto deveria alcançar os 4,5% com tolerância máxima aos 6,5%. Mas a realidade difere (e muito) da calculadora de Guido Mantega, ministro da Fazenda.
Como então lutar contra o monstro que cospe fogo e devora o orçamento das famílias com menor renda? Bem sabe Margaret Thatcher, a dama de ferro, que medidas extremamente impopulares resolvem a questão. O primeiro setor atingindo pela inflação é o alimentício. E é quando sentem a mordida do dragão aqueles mais apertados financeiramente. A alta no preço dos alimentos passa então a refletir em toda economia, pois lembremos que todos devem ampliar sua renda para continuar comprando o jantar.
É claro que péssimas safras e desfeitas do clima diminuem a oferta dos alimentos e, consequentemente, causam ao aumento dos preços. Existem, contudo, problemas mais profundos e perenes que também se revelam pelos mesmos sintomas. A insuficiência da produtividade, por exemplo, mostra que mais trabalhadores desejam uma menor quantidade de produtos oferecidos, o que leva os preços para o alto. Já as despesas do governo contribuem ainda mais para o problema, dando fôlego à inflação. No entanto, para diminuir o excesso da moeda em circulação, não basta apenas favorecer a produtividade, pois tais medidas são demoradas e, enquanto isso, a procura continua a crescer. Assim, acompanhada das armas já citadas, a espada que dá o primeiro golpe no dragão deve ser a diminuição da demanda pelo aumento da taxa básica de juros.
Mas o drama está em outra parte do palco. Dilma Rouseff sabe o que precisa fazer para combater a inflação. Nessa última quinta-feira, 19/04, ainda que tenha criado mais 6.500 cargos (o que custará 500 milhões de reais anuais a mais aos cofres públicos), o governo brasileiro tem consciência de que, para vencer esta luta, precisa aumentar os juros e cortar os gastos. O problema é que a taxa SELIC, cuja queda foi tão bem cantada pela campanha petista, precisa ser elevada. E, enquanto o governo não optar pelo caminho mais impopular, mais penoso será o preço que a população terá de pagar.”