Talvez o mundo sempre tenha sido chato. Mas o fato é que os tempos modernos trouxeram uma maior capacidade de livre expressão, e com ela, aumentou-se o potencial de influência que alguns conseguem exercer sobre outros. Um grande grupo de “alguns” passou a usar esse poder para, indiretamente, tornar a vida em sociedade cada vez mais aborrecida. Talvez não façam por mal, e realmente acreditem em suas doutrinas. Aborrecem, entretanto, de um jeito ou de outro.
A indústria criou o chocolate, e os humanos aclamaram essa invenção com muito entusiasmo. Surgiram então as dietas, os nutricionistas, os seguidores de um culto ao corpo de feições olímpicas. Temos cá um triângulo de relações que envolve o capitalista do chocolate, o consumidor, e o “saudável”. Um quer ganhar dinheiro, o outro quer obter prazer imediato. Não é difícil ver que o trabalho do último acaba com a alegria dos dois.
Como foi dito, não se pode dizer que esses “chatos” tenham a pura intenção de desmerecer o desejo ou o prazer do alheio, mas essa atitude, juntamente com a legião de seguidores que acaba nutrindo esse pensamento, afeta quase todos os setores da vida de cada um. A rotina acaba virando um conflito interno maniqueísta, onde o desejo é sempre reprimido por uma ideia que te faz sentir mal, simplesmente por possuir tal desejo.
Não se pode mais tomar banho quente, porque resseca a pele. Não se pode mais ouvir música alta porque faz mal pro tímpano. Não se pode dormir porque tem prova em poucos dias; e não se pode deixar de dormir porque prejudica a concentração.
A lista é interminável – em praticamente tudo que fazemos no dia-a-dia podemos encontrar um conflito que apresenta argumentos bastante sólidos em ambos os lados. Fazer ou deixar de fazer? Comprar ou não comprar? As pessoas acabam tendo que realizar cada vez mais escolhas na vida, passar por cada vez mais estresse, somente para decidir-se entre duas opções simplórias, insignificantes. É como se, de repente, as pessoas começassem a complicar tudo que existe de simples no mundo.
Amar é sofrer, e não amar, viver uma vida em branco. Sonhar é decepcionar-se, e não sonhar, é desistir. Há razões para acreditar na religião, e não acreditar. Assim como há razões para ser feliz, e razões para não sê-lo. O pior é que estamos já tão acostumados a ouvirmos opiniões e argumentos sobre tantas posições diferentes da vida, que seria praticamente impossível ignorar todas essas chatices e mandar tudo ao inferno. Não nego que haja algo de bom nesse racionalismo e precaução exageradas. Mas afinal de contas, o propósito da vida não é viver? A felicidade não está nas chamadas “coisas simples”?
O mundo ficaria mais fácil sem tanta burocracia, sem que as pessoas divergissem tanto em ideias, sem esses “chatos”. Talvez menos completo, menos surpreendente. Mas muito mais fácil.
Bruno Sato- 3E1
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