É comum pensar que os países membros do acrônimo BRICS (Brasil, Índia, China, Rússia e África do Sul) trazem consigo um perfil social e desafios idênticos, para se tornarem parte do hall dos países desenvolvidos. “A Índia é uma sociedade muito complexa, difícil de ser comparada. No campo da Educação Básica pude comprovar o que já pensava: o Brasil tem caminhado muito bem dentro dos Brics. Principalmente depois de 1995, que tivemos que correr atrás do descaso com relação à Educação Básica em praticamente todo o século XX ”, contou o Diretor- Presidente do Bandeirantes, Mauro de Salles Aguiar, após retornar da Índia, onde participou do Fórum “The New Constellation of Growth in Economy”, em Nova Déli.
O evento, fechado para governos e empresas, foi organizado pelo grupo “The Growth Net”, associação de empresas ligada ao CEAL (Conselho Empresarial da América Latina), do qual Mauro Aguiar é membro, responsável pelo pensamento
em questões de educação e capital humano levantadas pelo grupo.
Algumas lideranças da equipe organizadora do “The New Constellation of Growth in Economy” também estão envolvidas no Fórum Econômico Mundial que acontece anualmente em Davos (Suíça); assim, o evento teve um padrão semelhante a esse, e o comparecimento de autoridades e grandes empresários do mundo inteiro.
Mauro Aguiar proferiu palestra sobre capital humano no Brasil, em sessão plenária. “Procurei demonstrar que o Brasil já passou pela transição demográfica. Não tem mais reserva demográfica para, ao incorporá-la a economia industrial e de serviços urbana, aumentar a produtividade. Agora, apenas nos resta aumentar a produtividade do capital humano através da educação”, explicou. “Sou admirador da visão desenvolvida pelo professor Samuel Pessoa, da FGV do Rio, e ex-aluno do Band, de como nossa mão de obra ficou fragilizada”.
Chamou sua atenção o quão participativa e incisiva foi a plateia durante os debates. “Os presentes perguntavam muito; questões pertinentes e até provocadoras”, disse.
A Índia é um dos países cuja economia vem crescendo substancialmente no mundo, mas que encontra barreiras estruturais, educacionais e sociais que maculam um pleno desenvolvimento e uma aproximação das grandes potências. O país tem 1 bilhão e 200 milhões de habitantes aproximadamente; 40% deles ainda não têm energia elétrica. “Há pólos acadêmicos de ponta na área de tecnologia, mas a Educação Básica ainda deixa a desejar. Além disso, somente 4% da população fala inglês; em números absolutos é muita gente, mas não se relativizarmos”, contou.
A vivência de uma semana em Nova Déli foi uma experiência enriquecedora para Mauro. “Durante uma visita pela velha Déli em um típico ‘tuk-tuk’, pude constatar muita pobreza, e um estilo de vida diferente do que estamos acostumados no Ocidente. A começar pelo trânsito caótico. Já a parte nova da cidade se assemelha muito a Londres: grandes parques e estruturas da época da presença inglesa. Em comum, a espiritualidade, presente do ministro ao motorista do táxi”, descreveu.
Paralelamente ao evento principal, Mauro Aguiar organizou um café da manhã com o embaixador brasileiro na Índia, Carlos Duarte, e o Primeiro Secretário Leonardo Onofre de Souza, junto à delegação brasileira – Ingo Plöger (Presidente do CEAL); Celina Ramalho (Professora da EAESP/FGV) e Marcelo Furtado (Diretor do Greenpeace Brasil). “Foram aqueles encontros que valem tanto quando o evento em si; as relações Brasil- Índia foram bastante discutidas, as questões de fontes de energia, bem como as semelhanças e diferenças entre os países”, disse.
“Voltei ao Brasil com a sensação de alegria por viver em um pais livre e poder expressar com clareza e sinceridade nosso panorama macro-econômico e educacional para o resto do mundo. Presenciei falas de países em desenvolvimento que eram “propagandistas”, amarradas com o governo. O Brasil tem uma democracia e instituições mais sólidas que China, Índia, Rússia e África do Sul, por exemplo; isso é fundamental para um desenvolvimento saudável”, concluiu.