Outro dia, alguns alunos bastante indignados disseram algo parecido com:
Professora, você não viu o cartaz do novo filme? Está muito errado! Falta crase!
Em primeiro lugar, a crase não falta ou sobra, ela ocorre ou não, visto que é um fenômeno fonético de fusão de duas vogais iguais (no caso do português atual, restou apenas em relação à vogal “a”: geralmente a preposição “a” + artigo “a”, dentre outros casos). O que se coloca ou não, na escrita, é o acento grave indicativo de crase, como bem sintetizou Evanildo Bechara, conceituado gramático da Língua Portuguesa:
“Não há razão para condenar-se o verbo crasear para significar ‘pôr o acento grave indicativo da crase’. O que se não deve é chamar crase ao acento grave”*.
Em segundo lugar, para sabermos se a indignação tem fundamento, vejamos o cartaz:
Segundo a norma culta da gramática, o substantivo feminino “casa”, desacompanhado de qualificação, quando geralmente assume o sentido de lar ou morada, não admite anteposição de artigo, logo, não ocorre crase: Vou a casa (compare com Volto de casa e perceba que realmente não há razão para presença de artigo nesse sentido). Porém, se o termo “casa” estiver acompanhado de expressão que indique o dono, o morador ou qualquer qualificação, admite artigo e, consequentemente, pode ocorrer crase: Vou à casa dos meus tios (compare com Volto da casa dos meus tios).
Voltemos ao nome do filme: a invasão não ocorre em uma casa qualquer, mas em uma bem específica, talvez uma das mais visadas do mundo: a Casa Branca, sede do governo norte-americano. O título do filme, em bom português escrito, deveria ser, portanto, “Invasão à Casa Branca”. Ponto para vocês, alunos!
*Quer saber mais?
Bechara, Evanildo. Moderna Gramática Portuguesa. 37. ed. ver. e ampl. RJ: Lucerna, 2003.
Quer refletir mais?
http://jackdaniels8107.wordpress.com/2006/04/28/o-fim-da-temida-crase/