O texto abaixo foi escrito pelo Alexandre da 3H3 com a colaboração da Giovana, da 3B1. É mais um testemunho que um texto. E merece muita, mas muita reflexão mesmo. O link que segue o texto é de uma caricatura que o Alexandre entende completar suas palavras.
“Queria que pudessem sentir o sentimento de impotência deles. Impotentes por não haver mudança, tudo já estratificado, nada que você fizer será o suficiente para mudar sua realidade. Não a sua, a deles. Deles? Quem são eles?
Há diferentes realidades na população, tive a oportunidade de viver duas. Cursei todo Ensino Fundamental em uma escola pública, lá aprendi a ler e a somar, não aprendi a roubar, não bati e nem xinguei minha professora, já que muitos pensam que é esta a rotina destes alunos. Fui escolhido pela minha escola para participar de um projeto, este me proporcionou a mudança. Durante esse tempo que estudei em uma escola pública e noutra particular, pude perceber o abismo entre duas realidades totalmente diferentes. Consegui, entrei no Ensino Médio e, com a convivência, veio a maior percepção das diferenças. Quando um professor diz “Isso os alunos da escola pública não aprendem”, você não tem como negar, é um fato. O que choca é a reação dos alunos, ou a falta dela. Ao invés de pensar em como aprender essa ou aquela matéria poderia fazê-lo passar em uma universidade pública, a resposta àquela frase é o alívio, como se aquele aluno que tem que desistir de seus sonhos por falta de recursos pudesse roubar sua vaga. Aquele aluno que não teve a mesma sorte que tive, aquele aluno que seria eu se o projeto não tivesse me encontrado.
Já tive que ouvir muitos absurdos. Mostras verdadeiras de como algumas pessoas não tem conhecimento das duas realidades. Além da colega que afirmou não saber como uma pessoa pode viver com menos de 8 mil reais mensais, houve alguns argumentos utilizados numa discussão sobre cotas sociais e raciais que também chocaram. Deveria ser uma discussão saudável, já que estudamos em uma das mais renomadas instituições de ensino. Entretanto, fui obrigado a ler (sim, eu sei ler!) “os caras vão entrar na [faculdade] federal e nem vão saber ler”. O desconhecimento da realidade produz estereótipos sobre alunos oriundos de escolas públicas, normalmente, estes são analfabetos e não querem estudar. No entanto, na hora de prestar o vestibular, todos são iguais! “Quer entrar numa universidade? Passe no vestibular!”. Só não sei como é possível alguém sem condições financeiras de pagar a ida e volta de ônibus e metrô, conseguirá comprar livros caros, apostilas de revisão, pagar professor particular, e, além disso tudo, ter professores a postos para te ajudar a qualquer momento. Pois é, como as realidades são diferentes…”