Semana passada o Luís Vicente, da 3H2, disse que iria mandar um texto para o blog que era uma resposta a um post publicado o ano passado, sobre as diferenças entre as gerações. Vou deixar que nele próprio explique: “o texto abaixo nasceu como uma resposta ao escrito ‘As diferenças entre as gerações’, aqui do Histo é Blog. Entretanto, veio a se alongar tanto e gerar tanto interesse em mim, e também um sentimento de que podia e devia ser acessível a mais gente, que decidi colocá-lo como um texto propriamente dito no blog.” Depois disso, só o texto mesmo.
“Pensar sobre a geração a qual pertence é comum. No entanto, é importante ressaltar que num planeta tão grande e diverso, o ‘mundo’ de cada um se resume ao que ele vê, apalpa, ouve, sente, e o que mais captar com seus sentidos diversos. Pois bem, não seria interessante refletir se tua visão acerca da juventude provem justamente do ‘cubo mágico’ dos burgueses e pseudo-burgueses no qual você está inserido e você mesmo pode não querer sair? O fato é que para enxergar estilos de vida e pensamento diferentes da tal ‘juventude perdida’ é necessário quebrar os conceitos e barreiras criadas por aqueles que mais querem que os jovens (e adultos) não passem de crianças preconceituosas e consumistas que atendem de bom grado à moda da semana, seja sertanejo universitário ou boné de x cor, ir para x lugar, etc., ou à ‘moda’ atemporal, refletida na moral do dia-a-dia. Quem são estes a quem interessa a imbecilidade humana? Aqueles que, por isso mesmo, não querem que você tome contato com outras culturas, como a indígena, a punk e a skinhead, dos iogues, culturas tribais. Aqueles que fingem que só existe uma forma de viver. Aqueles que criam e ditam a moral de seu dia-a-dia: com quem você deve e não deve conversar, quem é bom e quem é mau, etc. Os que, para fazer isso, escolhem o que você pode pensar ou não pensar, ver ou não ver. Talvez, meu caro, ao dizer que a juventude se encontra no cubo mágico, quem está dentro do cubo mágico seja você também. Só que para sair desse cubo é necessária uma mudança de postura, de visão de mundo, desprender-se do que os seus ‘superiores’ te mandam acreditar. Se a revolução não está no seu meio, você precisa tomar contato com outros meios afim de ver a revolução.
O mundo de hoje produz intelectuais, visionários, e principalmente pessoas inovadoras e revolucionárias em tremenda abundância, estilos e filosofias de vida das mais absurdamente variadas, desde gente que vive pelada a andar a cavalo por aí, até quem adere as arcaicas práticas xamãnicas, quem opta por produzir todo o alimento que consome, quem gosta de enfeitar seu corpo com as mais extremas formas de ‘body modification’. A lista é interminável. Só que o que passa na TV e circula entre os meio-ambientes conservadores não diz respeito a nada disso, por um simples motivo: quem cria a informação nesse meio é quem domina, e quem domina não quer revolução. Para ver a revolução de hoje, silenciosa, fragmentada, acessível somente fora dos veículos de comunicação tradicionais, é preciso a eliminação da programação de vida ‘nascer-estudar-faculdade-escritório-casa-carro-filhos-netos-doença-morte’, ‘europeu é bom, ameríndio é ruim, indiano é ruim, arborigene é ruim, africano é ruim; consumir é bom, não consumir é ruim’; etc.. De outro modo, quem está a optar por ficar dentro do cubo é você, e boa sorte no terrível cubo.”