Prezados Professores e funcionários, Srs. Pais, queridos alunos, boa noite.
E aí como vão vocês?
Antes um recado:
A Patrícia, que não está aqui hoje porque está ajudando um jovem bandeirantino em seu dever de casa, pede para lembrá-los do encontro de 9 de dezembro de 2017!! Ocasião em que terão a oportunidade de ler em suas cartas da “time capsule” os desejos que hoje passam por seus corações e mentes.
Bem, falando em corações e mentes, como vocês assimilam, ou assimilaram a experiência de estudar no Band?
Não foi fácil, não é mesmo?
Eu acho que seria interessante refletirmos um pouco sobre tal experiência.
Para quê tanto esforço? Tanto estudo? Tanto trabalho?
Dizer que foi para aprender ‘as coisas’ além de ser uma resposta rápida de mais pode até insultar a nossa inteligência.
Estudar ‘quase’ até enlouquecer simplesmente para passar no vestibular, porque a faculdade que você escolheu é concorrida, pode ser uma apologia a essa loucura que se quer evitar. O trabalho excessivo pode levar a uma alienação de si, um esquecimento de quem você é.
Para quê?
Dizem por aí que os alunos do Bandeirantes são “bitolados”: só estudam e mais nada; só fazem listas de exercícios e mais nada; só elaboram relatórios de suas experiências nos laboratórios e mais nada; chegam quase a escrever um “livro” no curso de redação e mais nada…
Não têm “vida social”!!
Quanto nada!!!
É sobre esse nada que gostaria de falar a respeito com vocês, já que sua experiência como estudante foi circundada por esse nada. Esse vazio social, esse abandono à escravidão ditada pelo vestibular.
Antes uma pequena digressão:
É comum ouvirmos por aí que o Brasil é o pais do futebol.
E, creio eu, já ouviram dizer que “em time que está ganhando não se mexe”. Alguém que diga uma frase dessas não pode esquecer que, durante o jogo, o time se mexe sim, e muito!! Já imaginaram uma partida de futebol em que o time “campeão” não saísse do lugar, não se mexesse!!!
Imagino que quem disse tal frase estivesse pensando ‘apenas’ na escalação do time e em mais nada!
Jovens quando eu tinha a idade de vocês, gostaria que me tivessem dito duas coisas:
• o inferno está cheio de boas intenções; não existem pessoas bem intencionadas, existem pessoas comprometidas e pessoas que deliram sobre seu lugar no universo imaginando que podem continuar a fazer exatamente o que sempre fizeram que uma mão invisível transformará tudo para o “bem”. Esse tipo de pessoa, na verdade, confunde ação com movimento, a mesmice do trabalho rotineiro com a ação estratégica.
• só o amor não constrói; não devemos pensar em vencer apenas pelo poder das ideias. Vejam, não é porque uma ideia é boa que ela será aceita pela maioria. Considerem: o ideal de acabar com a fome, por exemplo, dificilmente encontraria algum oponente neste planeta, entretanto centenas de milhões de pessoas passam fome há décadas.
Bem, voltemos ao nada e ao futebol.
Suas listas de exercícios foram feitas e mais nada.
Não houve angústia, nem sonolência? Foi um passatempo? Não houve nenhuma semente que lhes ensinassem o respeito às conquistas da nossa cultura?
Seus trabalhos escolares foram realizados e mais nada.
Não houve dúvidas? Não houve contentamento com a realização? Não sentiram prazer em terminar algo que se parecesse, ainda que de forma humilde, com a assinatura de sua personalidade?
Vocês assistiram às aulas e mais nada.
Não houve o infernal subir e descer as escadas? Não houve encontro? Não houve a alegria de fazer amigos e admirá-los pelo esforço que eles também realizavam em estar ali todos os dias?
Vocês copiaram as ‘coisas’ da lousa e mais nada!
Não houve descoberta? Não houve um exemplo sequer de uma aula bem articulada? Sabendo que aqueles professores também estavam ali todos os dias sobre os rigores de manter o “nível”, mais pelo respeito que a maioria deles sustenta por vocês do que pelo “vestibular”?
Pois bem, o tal nada tem a ver com sua ATITUDE, que foi lapidada e polida ao longo desses anos. O que sustentou e sustenta sua ação é sua ATITUDE, ainda que uma mentalidade tacanha pudesse dizer que NADA mais aconteceu.
Neste pais do futebol vocês correram o risco de deixar de ser “arquibancada” para encarar o jogo de frente; deixaram o comodismo pela dureza do jogo; deixaram o delírio de um sonho impossível pela força do trabalho; enfim descobriram que da arquibancada tudo é muito fácil, mas no calor do jogo, ou melhor, no esforço longo e consistente tudo é um pouco mais complicado.
Mas resta uma pergunta que lateja lá no fundo e que gostaria que vocês considerassem: para quem?
Para quê? “Construir uma carreira!”
Para quem? “Para mim.”
Ok, então vamos falar sobre esse “mim”?
Se você pensar em ser médico, engenheiro, advogado ou sei lá, apenas para você mesmo (“mim”) o peso de entrar em uma faculdade muito concorrida pode ficar insustentável! Pois você não conseguirá ultrapassar sua vaidade e poderá ser atropelado por ela.
“É só pra mim”
Mas se você aprender a dividir suas conquistas com os outros você será médico para ajudar as pessoas, para salvar vidas;
você será um engenheiro que participará da construção de um mundo mais sustentável; você será um advogado ou juiz por
acreditar na civilização e em suas instituições; será um administrador mais criativo apenas por considerar que as pessoas
tem sentimentos; será um profissional de comunicação que sabe que ouvir, muitas vezes, é mais importante do que falar,
enfim você será um profissional para os outros, preservando o ideal de sua juventude. Tal pensamento pode acalmar sua
vaidade e colocálo em sintonia com o mundo que você compartilha com os outros.
Nesta noite, que deve coroar sua conquista, levem consigo duas palavras que considero muito importantes:
Atitude e dignidade:
Vocês estão às portas do futuro. Seus pais e mestres lhes conduziram até aqui.
Agora é a hora da ‘dignitas’ (da coroa), de dar o próximo passo: a sua atitude deve ser exemplo (não percam tempo com quem só reclama da arquibancada), sua dignidade deve ser sóbria (ninguém ganha um campeonato sozinho).
O futuro os aguarda: deem o próximo passo.
Sua atitude será seu alicerce e sua dignidade será sua coragem.
Obrigado.
Gleney Andreotti Lolo
Senhor Diretor Presidente Mauro de Salles Aguiar, senhor Diretor Vice-Presidente Hubert Alquéres, senhor Patrono Raul Cutait, caros colegas, pais e alunos das quatro turmas de biológicas, das cinco turmas de exatas e das três turmas de humanas, boa noite a todos.
Ao longo de todo o ano de 2012, a cada uma das vinte e seis semanas de aula regular do terceiro, descontando-se as oito de provas e mais umas seis de revisão, uma palavra era escolhida para nos instigar, motivar, alertar, fazer refletir. “Mas, professora, de onde você tira essas palavras? Você inventa? É da sua cabeça?” Não só! Tinham relação com o que vivíamos ou com o que esperávamos. Ali, no cantinho da lousa, no início mal eram percebidas pelos alunos, depois passaram a ser esperadas ou sugeridas, em algumas vezes foram usadas e abusadas por outros professores, sendo objeto de filosofia nas aulas do Salgado ou contraposição ao lirismo nas aulas da Susana. Outras foram fotografadas e ganharam o mundo no facebook!
Algumas palavras eram bastante corriqueiras e por isso mesmo precisavam de uma atenção maior, como “vontade” ou “instante”. Quantas coisas podem acontecer em um instante? Algumas eram incômodas, como “autocrítica” ou “ansiedade”. Estou fazendo tudo o que posso para melhorar ou tudo aquilo a que me propus? É melhor evitar ou aprender a lidar com a ansiedade pelos resultados, aprovação, aceitação? Outras palavras atendiam a pedidos inusitados, como “toalha”, em homenagem mundial a alguém que eu ignorava completamente, ou atendiam a pedidos ternos como “abraço” no dia do aniversário. Outras ainda revelavam características que já tínhamos ou que gostaríamos de ter, como “perseverança” ou “resiliência”.
E quantas adversidades não tivemos de enfrentar? A viagem à terra da Língua Portuguesa, especialmente ao terreno da gramática, nem sempre foi tranquila, ou melhor, desejada. Ou desejável? Qual é o certo? Por quê? Sempre tantos porquês, negações e polêmicas em Humanas! Ô inferno!
Por vezes, estávamos no lote lamacento das orações como as subordinadas substantivas predicativas reduzidas de infinitivo… “Como assim ‘predicativa’? Quem inventou esse nome? Não é infinitivo, parece infinito”, não é H1? Outro lote era arenoso, como o dos verbos e suas desinências e pessoas e números e tempos e modos e valores semânticos… “Como assim ‘conjugação’? Por que existe esse verbo? Você tá de brincadeira que o nome ‘presente do indicativo’ nem sempre indica o presente”, não é H2? E, claro, há o lote espinhoso das polissemias, homonímias, ambiguidades, neologismos… “Mas como assim ‘qual é o humor’ desse texto sem graça”, não é H3?
E pouco a pouco, geralmente chegando antes do nascer do sol e saindo depois que ele se punha, trabalhando firme, juntos e motivados pelas nossas “palavras da semana”, transformávamos cada um desses lotes em terrenos férteis, produtivos, rentáveis, sustentáveis e descobríamos o alto valor desse pequeno tesouro que é a nossa língua, quase sempre tão destratada e desmerecida pelos seus falantes.
Acredito que enfim estamos na tão esperada grande festa da colheita! E peço desculpas por, na falta de precisão vocabular, repetir a palavra de nossa última semana: “gratidão”. Sou grata porque nosso convívio me fez crescer, muito além desse metro e meio, descontando a cabeleira, é claro! Sou grata por termos passado juntos não só o terceiro ano, mas por ter estado com a maioria de vocês desde o segundo e com alguns ainda desde o primeiro ano! [Como é que você me aguenta, Karyn?] Sou grata por vocês terem confiado nesta pretinha aqui metida a ensinar que todo dia se aprende e sempre aprendendo com os ensinamentos nada ortodoxos de vocês! Sou grata pelas nossas discussões, até por seus inconformismos com as provas – “como é que eu ia enxergar o post-it?” –, e por nossas ponderações. Sou grata pelas risadas que, quase sempre na medida, tornavam minhas manhãs e tardes, muitas tardes (!), bem mais leves. Sou grata pelos bilhetinhos nas provas, sempre bem humorados e carinhosos, a despeito do resultado, fosse esse altamente ou não tão plenamente satisfatório. Sou grata pelo reconhecimento de que “sabe, até que esse negócio de gramática pode ser divertido” (para mim sempre é!). Sou grata pelo encantamento contagiante e não irônico: “Mano, isso é muuuito legal!” Sou grata pelas confissões: “você me ajudou a escolher minha carreira”, e pelas decisões: “quero ser professora” ou, em total júbilo, “vou fazer Letras também”. Fiquem tranquilos, senhores pais, tenho certeza de que, se eles quiserem, serão excelentes professores e a excelência é muito bem recompensada, financeira e pessoalmente. Sou grata, enfim, pelo carinhoso convite para estar aqui hoje e poder vê-los ainda uma vez, mesmo que seja a última. Eu já tenho outros tantos me esperando lá nas terras da gramática, e só vou feliz, mesmo com essa dorzinha da despedida, porque hoje comprovo mais uma vez que esses frutos todos são de excelente qualidade.
Cátia Luciana Pereira