Excelentíssimos Srs. Diretor-Presidente, Vice-Presidente e Patrono, Caros professores, pais e alunos de humanas (de quem fui professora no 2º), de biológicas (a quem encontrei no aprofundamento, na revisão).
E – olá, meninos e meninas, queridos alunos das turmas de Exatas de 2012!
Ou eu deveria dizer olá, ex-alunos?
Ou ainda: olá, futuros engenheiros, médicos, advogados, professores,
economistas, administradores, pesquisadores, publicitários…?
Na verdade, creio que uma ideia não exclua a outra: ex-alunos nunca
deixarão de ser alunos queridos, com quem nós professores compartilhamos
um pedaço de nosso caminho.
E talvez o ideal fosse que também engenheiros, médicos, advogados,
economistas, políticos… continuassem sempre sendo alunos. Obviamente,
não porque ficariam estagnados – muito pelo contrário: a trajetória de vocês,
formandos do Colégio Bandeirantes, é prova de que só conhecem um
caminho: o do dinamismo, do desenvolvimento, do aprimoramento, conseguido
com esforço, comprometimento e sacrifício. Durante o tempo em que fui
professora de vocês, pude testemunhar esse dinamismo e assistir a uma bela
transformação: o olhar inseguro do começo do 3º ano, o olhar ansioso, às
vezes meio apagado pelo cansaço, deu lugar ao olhar cheio de brilho, que
podemos ver hoje.
Digo então que o ideal seria vocês permanecerem alunos no sentido de
manterem acesa a curiosidade por aprender, e a humildade de reconhecer que
nunca estamos prontos; eu tenho certeza de que também não sou a mesma
que era antes de conhecê-los, e de que aprendi muito com vocês. Para falar
com Cecília Meireles, ao comparar a vida a um desenho:
“todos os dias estás refazendo o teu desenho”, “tens trabalho para a vida toda”.
E com João Guimaraes Rosa,
“O senhor… Mire veja: o mais importante e bonito, do mundo, é isto: que as
pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas – mas que elas
vão sempre mudando”
Pois bem, queridos alunos: o que faço aqui, professora de Literatura,
sendo homenageada por vocês, alunos da área de Exatas – aliás, aproveito
para agradecer pelo carinho, pelo reconhecimento – mas, ao mesmo tempo
procurando homenageá-los, parece prova de que, na vida, na prática, na
educação, nas relações humanas, não há divisão capaz de rotular e separar as
pessoas, pois aquilo que as une transcende qualquer classificação. E uma
forma de homenageá-los é presenteá-los com aquilo de que disponho nesse
momento, que são palavras.
Palavras podem ser vazias, talvez apenas bonitas.
Mas podem ser duras: “Provisoriamente não cantaremos o amor, / que se
refugiou mais abaixo dos subterrâneos”;
podem ser poderosas, pois nos revelam o mundo: “Na planície avermelhada os
juazeiros alargavam duas manchas verdes. Os infelizes tinham caminhado o
dia inteiro, estavam cansados e famintos”.
podem ser mágicas, pois fazem um outro mundo existir: “Ao verme que
primeiro roeu as frias carnes do meu cadáver, dedico, como saudosa
lembrança, estas memórias póstumas”;
Penso que nós, professores, procuramos em nossas aulas usar as palavras
em seu aspecto duro (como, não fez a lição? Como assim, não leu Viagens
na minha terra? Que absurdo!); em seu aspecto mágico, ao imaginarmos
juntos novas realidades possíveis – mas penso que procuramos usá-las,
principalmente, em seu aspecto transformador, fazendo delas um meio de levá-
los a algum tipo de reflexão, às vezes de descoberta, mas sempre a alguma
inquietação – aquela inquietação capaz de abrir novas perspectivas, novas
visões de mundo.
Mas tenho certeza de que nosso dia-a-dia foi além das palavras, porque foi
também feito de gestos, olhares, e de algo que não tem forma material, mas
que se sente: uma total confiança; confiamos em vocês – em sua capacidade,
em seu potencial, em sua vontade, – e vocês nos retribuíram confiando em
nosso trabalho, fazendo silêncio (ok, pelo menos na maioria das vezes…)
fazendo silêncio para ouvir o que tínhamos a lhes dizer – para ouvir nossas
palavras, porque confiaram nelas – fossem a explicação de um teorema, os
passos de resolução de um exercício, a análise de um texto, um comentário,
uma dica para a prova? (uma dica para a vida?), uma bronca, um elogio, um
incentivo…
Diante disso, queridos alunos e alunas, só temos a agradecer-lhes não só a
escuta atenta, mas também as perguntas, as intervenções, e até as opiniões
contrárias, que levaram ao debate – e desejar-lhes que essa prática os
acompanhe sempre:
Escutar com respeito as palavras alheias, sem deixar de – com igual respeito
– manifestar as próprias – palavras que, temos certeza, serão portadoras de
grandes ideias e simbólicas de belas realizações. Obrigada!
Profa. Marise Hansen