Ritos de passagem são comuns em qualquer sociedade. Marcam a entrada dos mais novos no universo adulto. Tem as mais diversas formas e são tão antigos quanto os seres humaos. Mas existem alguns persistentes e inquietantes, pois constrangedores. É o caso do trote universitário. Violentos e humilhantes na maioria dos casos, só podem ser evitados à custa de uma personbalidade forte e da possibilidade de isolamento social, o que nem todos os calouros têm ou estão dispostos a enfrentar. O que pousca gente sabe é que o trote é uma tradição medieval. Esse é o tema do texto de Carmem Castiñeira, da 3B1. Bem oportuno para os alunos das 3ªs séries.
“Encerrada a temporada de vestibulares, as aulas iniciam-se mais uma vez no meio universitário. É a época de trote de calouros.Nos últimos anos, os trotes vêm chamando a atenção devido aos excessos cometidos, a exemplo do caso que levou à morte de Edison Tsung Chi Hsueh, ingressante da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. ‘A tradição, porém, não cessou. E o que muitos não sabem é que se trata de uma tradição medieval. Sim, a prática do trote persiste desde a Idade Média.’1 Os primeiros registros de trote remontam há mais de 600 anos e são encontrados em praticamente todas as primeiras universidades da Europa, como Paris, Coimbra e Heidelberg, fundadas na Idade Média. No Brasil, os trotes só apareceram após a chegada da Família Real portuguesa, em 1808, quando surgiram as faculdades no país. Os brasileiros seguiram o exemplo europeu, copiando os trotes da Universidade de Coimbra. Em Heidelberg, Alemanha, foram encontrados os primeiros relatos de trotes violentos. Os calouros sofriam severas agressões físicas, sendo forçados a andar nus e se alimentar de comida deteriorada. Ademais, deveriam vestir, calçar e servir à mesa seus “mestres” veteranos. Caso o novato se rebelasse, seria espancado, prática que poderia levar à morte. Se sobrevivesse, o calouro jurava que repetiria tudo o que havia sofrido com os próximos novatos. Só então ele passava a ser aceito como legítimo veterano. A influência da Idade Média também permeia os termos amplamente empregados até os dias de hoje. O trote, forma de andar dos cavalos, significa que os estudantes que ingressam nas universidades precisam aprender com os mais antigos a ‘trotar’, ou seja, caminhar em direção a um novo universo. É como se devessem ser domesticados. Já o termo ‘bixo’ surgiu pelos veteranos virem os novatos como verdadeiros ‘bichos do mato”, como alguém que precisasse ser civilizado, por serem geralmente analfabetos e terem longos cabelos, unhas sujas e barba comprida. ‘Bixo’ seria um trocadilho desumanizador, em que a letra ‘x’ indica aquele que está marcado.’1 Até mesmo a prática de raspar os cabelos possui uma explicação medieval. ‘As roupas dos novatos eram retiradas e queimadas, e seus cabelos, raspados.’1 Essas atividades eram justificadas, sobretudo, pela necessidade de aplicação de medidas profiláticas contra a propagação de doenças. Preserva-se no século XXI um tanto do século XIV. O trote persiste, preocupa e não raramente escapa do controle.Não são somente os brasileiros que têm motivo para se preocupar: americanos, franceses, entre outros, também lamentam as tragédias dos trotes inconsequentes. Contudo, felizmente, várias ações têm demonstrado que é possível iniciar a vida acadêmica de uma forma educativa, com estímulo à solidariedade e cultivo da cidadania. Universidades estão desenvolvendo o ‘trote solidário’, que promove diversas atividades comunitárias, como a arrecadação de alimentos e roupas e doação de sangue. A entrada na universidade deve ser um momento de confraternização, comemoração, inclusão e não de humilhação, tortura, tristeza. ‘Recepcionar os que chegam é acolhimento, não é trote.’2″
1. Trecho extraído do texto A origem medieval do trote universitário, de Marina Dias.
2. Trecho extraído do texto Universidades, calouros e trotes na Idade Média, de Laboratório de Estudos Antigos e Medievais.
Referências:
http://veja.abril.com.br/noticia/educacao/origem-medieval-trote-universitario
http://www.atribunamt.com.br/?p=99716
http://www.dhi.uem.br/leam/index.php/noticias/162-universidades-calouros-e-trotes-na-idade-media