A matéria abaixo foi publicada no portal do jornal “O Dia” do Rio de Janeiro no dia 22 de setembro. Vale acrescentar que o “pré-night” do título é o mesmo que “esquenta”.
‘Pré-night’ arriscado
Adolescentes consomem bebidas alcoólicas cada vez mais precocemente, com mais frequência e no triplo da quantidade que ingeriam na década de 80. Jovens experimentam álcool aos 13 anos de idade, e não mais aos 16
POR Francisco Edson Alves
Rio – Especialistas alertam: adolescentes estão consumindo bebidas alcoólicas mais precocemente, com mais frequência e no triplo da quantidade que ingeriam nos anos 80. E com aditivos perigosos, que aceleram a dependência e muitas vezes são fatais: outros tipos de drogas e energéticos.
Os “ingredientes” mascaram o estado de embriaguez, afetam diretamente o cérebro e comprometem o ritmo cardíaco. A falta de diálogo em família e a quase inexistente fiscalização no comércio de álcool são os combustíveis desse drama. Pesquisas indicam que atualmente os adolescentes começam a experimentar álcool entre os 13 e 15 anos. “Há três décadas, o consumo se iniciava entre os 16 e 17”, compara a psiquiatra Maria Thereza Aquino.
Segundo ela, de cada dez pacientes que atende, de todas as faixas etárias, dois são pré-adolescentes alcoolistas. “A maioria não consegue mais se satisfazer com cerveja, vodca ou vinho, por exemplo, e acaba ingerindo também energéticos, maconha, cocaína ou ecstasy”.
No Rio, a situação ainda é mais preocupante. A última Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE) sobre a incidência de bebidas alcoólicas e drogas entre quase 61 mil alunos de 13 a 15 anos de escolas públicas e privadas das principais capitais — feita pelo IBGE e Ministério da Saúde — revelou que as meninas cariocas são as terceiras no perigoso ranking da experimentação de álcool entre as capitais brasileiras.
Enquanto 79,4% das entrevistadas já fizeram uso de álcool, os meninos do Rio ficam na casa dos 73,9%, em sexto lugar entre as capitais. J., aos seus 15 anos, já é uma alcoólatra em recuperação. “Estou tentando me livrar desse terrível vício no AA (Alcoólicos Anônimos).
Eu e meus amigos misturamos cerveja com energético e crack e perdemos a noção. Cansei de ser levada para casa sem roupa, sem saber onde andei e o que fiz”, diz.
Mais riscos a reboque do vício
Doutor em Saúde Mental e coordenador do premiado projeto Restaurando Esperança, do Instituto de Pesquisas Heloisa Marinho (Iphem), Jairo Werner afirma que usuários precoces de álcool vivem à margem de outros riscos, como violências física e sexual e acidentes de trânsito.
O Iphem atua na recuperação de 40 usuários de álcool e drogas, de 10 a 18 anos, com apoio da Universidade Federal Fluminense e da Fundação para a Infância e Adolescência.
“Pais devem ser exemplos, dialogar sempre e impor limites”, diz o especialista. A professora J., 52, mãe de X., 17, atesta. “Nunca desista do filho viciado. O que ele tem é um problema de saúde. Ele precisa de amor e tratamento adequado, junto com a família”.
O Artigo 243 do Estatuto da Criança e do Adolescente prevê pena de dois a quatro anos de prisão, mais multa, para quem vende bebida alcoólica a menores.
No entanto, Jairo Werner acredita que falta rigor na fiscalização. O Iphem pretende expandir o projeto com núcleos em comunidades carentes. O atendimento é gratuito.
Hábitos perigosos
– Quem começa a beber antes dos 15 anos tem quase cinco vezes mais risco de se tornar dependente
– Nove entre dez jovens temem a reação da família se chegarem bêbados em casa
– O primeiro gole é entre os 12 e 13 anos
– Outras drogas são consumidas pela primeira vez entre os 13 e 14 anos