Vinte anos separam as duas fotos.
Uma eternidade em se tratando de século XX.
Até os dias de hoje mais setenta e poucos anos e, com certeza, mudanças ainda mais significativas na relação professor-aluno.
Evidente que havia problemas de indisciplina nas duas salas retratadas acima. Bem mais do que as cabeças abaixadas da primeira foto ou do que a postura respeitosa da segunda permitem supor.
O que mudou então?
Muitos pesquisadores apontam para o que não teria mudado, afirmando que, entre as salas de aula dos anos 20 ou 40 chegando às salas do século XXI, a forma de ensinar dos professores é semelhante. Um problema grave conhecendo as diferenças entre os alunos de ontem e os de hoje.
Seria apenas isso a principal causa do aumento da indisciplina entre os alunos de todos os anos? Escolas e professores mais interessantes não sofrem com a indisciplina?
Doutor em Educação pela PUC/SP, o professor Joe Garcia, um reconhecido estudioso do assunto, afirma: “Há uma variedade e causas possíveis para a indisciplina escolar, que podemos reunir em dois grupos. Um desses engloba as causas consideradas externas à escola, como a violência social, a influência da mídia e o ambiente familiar. Já o segundo grupo envolveria questões próprias ao ambiente escolar como, por exemplo, a qualidade do currículo, a relação professor-aluno, a motivação do aluno, bem como a própria clareza quanto à disciplina esperada em sala de aula.”
Garcia também diz que a indisciplina causada por alunos instáveis e imprevisíveis seria a grande questão pedagógica da escola nos dias de hoje.
Ele aponta um caminho: “O professor seria mais efetivo sendo pró-ativo em atitudes que auxiliem os alunos no desenvolvimento de competências para a convivência e aprendizagem nos contextos coletivos. Muito importante também é a construção de vínculos que promovam um ambiente de acolhimento em sala de aula. Sem dúvida, nós professores, precisamos trabalhar sobre o nosso próprio olhar se desejamos que os alunos sejam melhores”.
O pesquisador Luciano Campos da Silva da Universidade Federal de Ouro Preto segue a mesma linha afirmando: “… certas características do trabalho e educativo desenvolvido pelos professores costumam funcionar como fatores inibidores ou favorecedores da indisciplina. É por isso que, conforme pode ser facilmente observado em qualquer sala de aula, os atos de indisciplina não costumam afetar, da mesma forma e com a mesma intensidade, todos os professores, uma vez que muitos alunos parecem literalmente “escolher” os professores na presença dos quais poderão ou não protagonizar os seus atos de indisciplina.”
Muito também já se discutiu sobre as responsabilidades da família diante da indisciplina na escola e um dos pontos de maior consenso entre os educadores é o entendimento de que os pais estão delegando a educação de seus filhos às escolas. A crise da autoridade familiar, segundo a maioria, seria a principal causa da desordem em sala de aula.
Marília Carvalho, da Faculdade de Educação da USP diz: “Não podemos culpar apenas a escola ou a família. A indisciplina escolar é um problema há muito discutido e aumenta a cada ano. As relações entre o universo infantil e adulto passam por grandes transformações e é inevitável que isso chegue as escolas”.
Para o filósofo espanhol Fernando Savater os pais estão mais preocupados em vivenciar momentos alegres e sem conflitos com seus filhos e exigem que o professor atue também no papel de disciplinador.
Essa exigência – nós educadores sabemos – costuma ser ambígua, contestada e muitas vezes convenientemente esquecida.
Dificilmente os pais percebem que, ao abandonar suas responsabilidades, diminuem muito a possibilidade de reclamar.
Todo mundo perde com essa situação.
Parafraseando o Dr. Joe Garcia, a família também precisa trabalhar o próprio olhar se querem alunos e filhos melhores.
Em tempo. A pesquisadora da Universidade de Genebra, Silvia Parrat-Dayan escreveu “Como enfrentar a indisciplina na escola”. O livro da Editora Contexto é amplo na abordagem do problema e leitura importante para o educador preocupado com o ambiente de sua sala de aula.
Departamento de Orientação Educacional