Hoje em dia é comum a utilização das mais variadas fontes para o estudo da História. Uma das mais ricas é a literatura. É sobre isso que trata o texto da Isabela Schettini (3B1 – a turma das Isabelas, nº 23). Ela propõe uma reflexão sobre a relação entre História e Literatura na Rússia do século XIX. Quem disse que as aulas de Revolução Russa não serviam para nada?
“Quando estudamos qualquer país, focamos em suas questões políticas, econômicas e sociais. No caso da Rússia, por exemplo, um país que transborda história e fatos relevantes no contexto mundial, acho interessante também olharmos acontecimentos importantes pela ótica literária. Escritores cujo objetivo era retratar a realidade da época servem hoje de material de estudo para entender o que acontecia na caótica Rússia do século XIX. Nicolai Gógol foi pioneiro da ‘escola natural’, tendência literária realista na qual os escritores descreviam com objetividade o quadro social russo e cujos livros deveriam possuir um caráter de protesto explícito. O sucessor de Gógol foi Fiódor Dostoiévski, responsável por uma maravilhosa coleção de livros repletos de personagens e situações que refletiam o cotidiano do povo russo em meio à pobreza e miséria. A protagonista das obras de Dostoiévski era a camada inferior da população, é a primeira a sofrer com o atraso político-social da Rússia e sempre foi excluída da grande literatura. Belínksi, conceituado crítico literário da época, considera Gente Pobre (1846), de Dostoiévski, o primeiro livro que ‘revelava mistérios e caracteres na Rússia com os quais ninguém até então sequer havia sonhado. Essa é a primeira tentativa de um romance social entre nós’. Nesse contexto da literatura russa, nasce o ‘homem supérfluo’, o intelectual que possui ideias, pensamentos revolucionários e sugestões únicas. Todavia, é incapaz de pratica-los, uma vez que choca-se com a opressão e a falta de liberdade social. Em 1849 Dostoiévski foi exilado na Sibéria: além de criticar intensamente o Estado, também participava de reuniões nas quais o socialismo era discutido como salvação para os conflitos existentes. Condenado à pena de morte, o escritor russo entendia que seu fim estava próximo, porém, sua punição foi modificada para quatro anos de trabalho em uma prisão. A partir de então Dostoíevksi passou a entender a vida de uma maneira diferente e sua carreira como escritor decolou. Esse breve texto serve apenas de exemplo para mostrar que aconteceu muito mais que imaginamos e não podemos restringir nosso aprendizado às aulas de história. Devemos procurar compreender e descobrir cada vez mais!”