Faz parte do senso comum considerar a adolescência como um momento de mudanças físicas – em geral, definidas como “puberdade” – e mudanças psicológicas e sociais. No entanto pode-se perceber que a adolescência tornou-se um fenômeno sócio-cultural de grandes implicações, sobretudo a partir dos anos 60, quando deixou de ser considerada uma fase preparatória para a vida adulta para ser o estágio final do desenvolvimento.
Depois da Segunda Guerra Mundial, definiu-se, no mundo ocidental, uma cultura juvenil que até hoje influencia o mercado; dessa forma a adolescência passou a ser o grupo de consumo preferencial, que dita tendências; um exemplo disso sãos os jeans, adotados pelos jovens rebeldes dos anos 50 e que passaram a ser produzidos e consumidos como peças de grande relevância no mercado das confecções.
Desde então, a adolescência ganhou status de modelo cultural, com estilo de vida, gosto, linguagem, copiados pelas demais faixas etárias e veiculados pela indústria cultural e pela mídia. Por isso, todos querem ser adolescentes: os mais novos não vêem a hora de entrar nessa fase tão valorizada e os mais velhos fazem de tudo para parecer que ainda não saíram dela.
Afinal o que há de tão interessante em ser adolescente? Segundo Octavio Paz, a imagem que simboliza o adolescente é a do personagem mitológico Narciso, o solitário, olhando seu reflexo no espelho de água, incapaz de sair desse estado de encantamento. Para sair dessa idade de solidão, seria preciso entregar-se ao mundo, amar, abraçar uma causa, sacrificar-se. Na realidade, porém, ser adolescente hoje é viver a vida com prazer, divertir-se, ter pouca ou nenhuma responsabilidade, enfim ser feliz…
Se o modelo de felicidade é ser adolescente, como sair desse mundo narcísico e se tornar adulto? Como fazer o mundo melhor, se todos nós desejamos ser eternamente jovens?
É inegável: há um lado encantador na adolescência, mas ela não dura para sempre, porque a vida adulta requer coragem e responsabilidade para enfrentar problemas. Cabe aos adultos (pais, professores…) ajudar os adolescentes a sair de seu momento mágico, guiando-os pelo caminho da vida saudável e ética.
Cândida Beatriz Vilares Gancho (professora de redação e CPG)