Todos sabemos que a pelo menos duas semanas os moradores da cidade do Cairo estão rebelados contra o governo do presidente Mubarak. Crise econômica, desemprego em alta, principalmente dos jovens, e falta de espaço para expressão política, são fatores que podem explicar o fenômeno, e as pessoas envolvidas parecem estar querendo mudanças. Mas, que tipo de mudanças?
Esta questão leva a uma reflexão. Do lado de cá, já vi muita gente dar como certo o envolvimento dos muçulmanos fundamentalistas, que estariam tramando a instalação de um regime no modelo iraniano (república islâmica) a fim de conquistar todo o norte da África e o Oriente Médio. Isto deve parecer óbvio a estas pessoas, pois o que mais a população de um país árabe/muçulmano há de querer? Democracia? Igualdade entre os gêneros? Liberdade de expressão, organização e consciência? É aí que os nossos preconceitos aparecem. Tomar todos os muçulmanos por fundamentalistas fanáticos (lembremos que também existe um fundamentalismo cristão) é como tomar o árabe por muçulmano, ou o islamismo como sinônimo de ignorância e obscuridade. Com as redes sociais espalhadas por todo o mundo e toneladas de informações transmitidas à velocidade do pensamento, certamente os egípcios, de todas as religiões e tipos físicos, devem estar interessados em experimentar a democracia, que pode ser uma forma ruím de convivência, mas ainda não inventaram uma melhor. E o caminho que eles escolherem não é melhor ou pior que o caminho que outros povos escolheram.
De qualquer forma, o assunto nos induz a pensar sobre a imagem que temos dos outros que, como nós, habitam este planeta.
Em tempo: oportuna a exposiação sobre a cultura islâmica promovida pelo Centro Cultural do Banco do Brasil, que vai até o dia 27 de março. O CCBB fica na rua Rua Álvares Penteado, 112 – Centro, perto do metrô São Bento. Mais informações, no site WWW.bb.com.br.