SER E MEMÓRIA
Nós somos nossa memória.
O cuidado que temos, ou que teremos com nossas lembranças, dará o tom do que nos tornaremos e nós somos o que nos tornamos.
Há um “jogo”, na boa acepção do termo, entre “cuidar” e “lembrar”. É desse cuidar e desse lembrar que gostaria de falar a vocês.
A você, jovem.
Você carrega em sua memória afetiva os anos de Bandeirantes. Nesse caminhar cresceu, amadureceu e já alcançou uma boa autonomia intelectual. Já é capaz de fazer “mundo” e de alguma forma dialogar com esse “mundo”, é capaz de se tornar pessoa a partir dele. Mas o apropriar-se de seu mundo e, portanto, a construção da sua identidade só será assegurada se mantiver a saúde de um diálogo permanente com o outro, pois é a alteridade que lhe trará a percepção de sua própria identidade, de seu mundo; o parâmetro para que esse mundo não se torne i-mundo, isto é, um conjunto de “percepções” e valores que não são seus, vieram de fora e invadiram seu ser sem pedir permissão.
Cuide de si para que seu mundo não se torne uma loucura que esqueceu como chegou a enlouquecer; para que não se torne uma repetição de hábitos que são apenas ecos de uma segunda natureza, de um adestramento sem vida, sem crítica.
O que protege seu mundo é o diálogo!
Mas como saber do “diálogo”?
Como saber de si nessa “terna indiferença do mundo”?
Neste momento de passagem você já tem uma história, e uma criança, de mais ou menos 3 anos, dentro de você, precisa de um abraço seu.
Faça um exercício de imaginação e sinta essa criança em seus braços, receba essa criança. Você ainda se lembra dela?
-Ela pode confiar nesse aconchego.
-Você pode acreditar e aceitar a verdade e a emoção desse calor.
Na passagem ritual desta noite deve haver um encontro de você com você mesmo.
Cuide de seus sonhos para que não ceda à mediocridade das massas ou à escravidão de desejos que não são seus.
Cuide de sua criança para que não se esqueça de como conversar: um diálogo só é realmente possível quando se sabe de si, quando não somos anônimos para nós mesmos.
Cuide-se para que, quando estiver próximo aos 50 anos como eu, possa olhar para você “adolescente” e estender uma mão amiga e dizer a esse jovem:
“Vem, vem para o futuro;
Eu te darei abrigo e amizade;
Eu te darei sinceridade.
Só quero o alento dos teus sonhos loucos de juventude para que eu possa, uma vez mais, sorrir e sonhar”.
Nós adultos nos preocupamos em deixar (será?), um futuro melhor para nossos filhos, mas temos que deixar filhos melhores para o futuro.
Na lembrança você será sempre seu próprio filho!
Só haverá futuro se não esquecermos a história que contamos para nós mesmos num sonho que a vida é, pois a vida é sonho, o sonho dos que cuidam…
O cuidado lhes trará, durante os momentos de crise, a verdadeira noção do perigo, mas também a lucidez da oportunidade.
Tragam sempre, dentro de si, seu entusiasmo.
Boa viagem (no tempo), obrigado a todos e boa luz.