Vencedores do Concurso Fernando Pessoa – 2017: terceiro colocado: “Poema das bolhas”, Verônica Dufrayer, 3H1

Publicado em 04/09/17

É com imenso prazer que, após tantos e maravilhosos textos enviados, conseguimos, tarefa ingrata!, escolher os três vencedores do Concurso Fernando Pessoa, edição de 2017. Parabéns aos vencedores e a todos os participantes (que também serão publicados em breve). Aproveitem a deliciosa leitura.

Equipe Palavrarte e Equipe de Português

Poema das bolhas

“Ó triste!” Triste! Coitado, coitado de mim!

Logo eu com bolhas nas mãos a dificultarem me a escrita!

Logo eu, um coitado por natureza!

Ah! Como irritam, inquietam e cansam as bolhas…

(E o que não cansa?)

Porque tudo me cansa tanto? O que mais faço na vida é ficar sentado

Esperando…O que? Não sei, talvez tudo.

Tudo o que penso.

Pois logo que penso, sento

E quando sento, sinto me derrotar outra vez, outra vez, outra vez

Sem nem ter começado a ousar começar qualquer coisa pensada.

Agora, nem mais sonhar ouso

(E se ousasse, que diferença faria?)

Nada quero.

Não, nada quero.

Já disse que não quero! Vai embora, me deixe só!

Saia! Não quero nada! Me deixe em minha agonia!

Sozinho.

Fui engolido de tantos quereres passados

E tornei-me um sonhador perdido sem sonhos,

Que estes foram perdidos também

Sim, tudo perdi

Perdi as chances de fazer o que de mim podia,

Perdi os dias,  os sorrisos, os sonhos, perdi a mim mesmo

“Confiei em meu estado e não vi que me perdia”

Mas perdi-me! Perdi- me no virar da esquina de casa

E já que tudo, eu incluído, nunca foi qualquer coisa fora de minha cabeça, nada perdi

Sou um invicto perdedor de nada

(Sou?)

Não sou

Estive sempre naquele maldito vir a ser

Até que perdi o projeto de mim como tudo mais

Se algum dia realmente fui qualquer coisa-projeto,

Além dos castelos que criei de mim, deixei de ser

Nem meu habitual dominó, soube manter

Esse roubou-me o rosto

Porque eu deixei roubar

(Que tinha a perder?)

“Tive que era fantesia”

Gênio Álvaro de Campos!

Não, não passo de uma bolha de sabão à espera das mãos de uma criança,  o tempo

Será que ele é a única coisa que existe ao fazer tudo mais não existir?

Não sei, estou cansado, ah cansado

Cansado de pensar, de ver, de ser

Tudo que penso é errado, tudo que vejo é mentira, tudo que sou?

Estou exausto! Cansado de tanto cansaço, tanto…

Tudo sempre a mesma coisa, mesma luta, mesmos homens com seus mesmos medos,

De que adianta?

 

Para que cansar-se mais procurando sentido na vida?

Já foi tudo encontrado, não pergunte.

Para que perguntar? Para que pensar?

Não, não se aborreça, está tudo nos livros sagrados ou botecos da esquina

 

Mas eu não consigo crer, esquecer,

Não consigo ignorar as bolhas,

Sempre deito tudo a perder,

Sou mesmo uma cadeia de desapontamentos

Foi-se a minha chance de viver na bolha das cegas verdades, perdi-a também

E, sem deus ex machina, qual será o final de mim?

Qual o sentido da vida?

Qual o sentido, metafísica? Qual o sentido? Whitman? Nietzsche? Nada

Mantenho me igualmente cego

Pior, consciente de minha cegueira

Antes, mirava o espelho curvo das ideologias bolhificadoras

Agora, o espelho quebrou-se

Sinto a dor cortante dos pedaços desconexos espalhados ao acaso

Todos eles ainda espelho ideológico

Apenas, como eu, fragmentado

Com pedaços, como eu, solitários

Bem menores que o espelho original,

Como eu, que sou menor que a mim inteiro

Seria eu um pedaço de espelho ideológico bolhificante?

 

Trechos retirados de Auto da barca do inferno

“Ó triste!” Triste! Coitado, coitado de mim!

Logo eu com bolhas nas mãos a dificultarem me a escrita!

Logo eu, um coitado por natureza!

Ah! Como irritam, inquietam e cansam as bolhas…

(E o que não cansa?)

Porque tudo me cansa tanto? O que mais faço na vida é ficar sentado

Esperando…O que? Não sei, talvez tudo.

Tudo o que penso.

Pois logo que penso, sento

E quando sento, sinto me derrotar outra vez, outra vez, outra vez

Sem nem ter começado a ousar começar qualquer coisa pensada.

Agora, nem mais sonhar ouso

(E se ousasse, que diferença faria?)

Nada quero.

Não, nada quero.

Já disse que não quero! Vai embora, me deixe só!

Saia! Não quero nada! Me deixe em minha agonia!

Sozinho.

Fui engolido de tantos quereres passados

E tornei-me um sonhador perdido sem sonhos,

Que estes foram perdidos também

Sim, tudo perdi

Perdi as chances de fazer o que de mim podia,

Perdi os dias,  os sorrisos, os sonhos, perdi a mim mesmo

“Confiei em meu estado e não vi que me perdia”

Mas perdi-me! Perdi- me no virar da esquina de casa

E já que tudo, eu incluído, nunca foi qualquer coisa fora de minha cabeça, nada perdi

Sou um invicto perdedor de nada

(Sou?)

Não sou

Estive sempre naquele maldito vir a ser

Até que perdi o projeto de mim como tudo mais

Se algum dia realmente fui qualquer coisa-projeto,

Além dos castelos que criei de mim, deixei de ser

Nem meu habitual dominó, soube manter

Esse roubou-me o rosto

Porque eu deixei roubar

(Que tinha a perder?)

“Tive que era fantesia”

Gênio Álvaro de Campos!

Não, não passo de uma bolha de sabão à espera das mãos de uma criança,  o tempo

Será que ele é a única coisa que existe ao fazer tudo mais não existir?

Não sei, estou cansado, ah cansado

Cansado de pensar, de ver, de ser

Tudo que penso é errado, tudo que vejo é mentira, tudo que sou?

Estou exausto! Cansado de tanto cansaço, tanto…

Tudo sempre a mesma coisa, mesma luta, mesmos homens com seus mesmos medos,

De que adianta?

 

Para que cansar-se mais procurando sentido na vida?

Já foi tudo encontrado, não pergunte.

Para que perguntar? Para que pensar?

Não, não se aborreça, está tudo nos livros sagrados ou botecos da esquina

 

Mas eu não consigo crer, esquecer,

Não consigo ignorar as bolhas,

Sempre deito tudo a perder,

Sou mesmo uma cadeia de desapontamentos

Foi-se a minha chance de viver na bolha das cegas verdades, perdi-a também

E, sem deus ex machina, qual será o final de mim?

Qual o sentido da vida?

Qual o sentido, metafísica? Qual o sentido? Whitman? Nietzsche? Nada

Mantenho me igualmente cego

Pior, consciente de minha cegueira

Antes, mirava o espelho curvo das ideologias bolhificadoras

Agora, o espelho quebrou-se

Sinto a dor cortante dos pedaços desconexos espalhados ao acaso

Todos eles ainda espelho ideológico

Apenas, como eu, fragmentado

Com pedaços, como eu, solitários

Bem menores que o espelho original,

Como eu, que sou menor que a mim inteiro

Seria eu um pedaço de espelho ideológico bolhificante?

 

Trechos retirados de Auto da barca do inferno

Verônica Dufrayer, 3H1

 

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