Alegre rotina

Publicado em 30/04/14

Despertar, obrigação, casa, jantar, cama.

Uma rotina tão simples e sem sal, onde quase toda a humanidade ficou presa, completamente desprezível, mas ainda assim seguida por todos. Mas realmente, parece um ótimo jeito de fazer o mundo funcionar, ignorando as preferências, os medos e inseguranças, as deficiências, os sonhos e os traumas de cada peça da sociedade. É isso mesmo, peças, peças vivas que se julgam como seres humanos, inteligentes e livres. Cada pessoa em seu mundo, se encaixando como peças e fazendo o mundo funcionar como uma gigantesca e cruel máquina que coloca as supostas obrigações na frente de qualquer fraqueza e cria mentes robóticas.

Em vários casos, cada etapa da rotina é um enorme sacrifício para quem a vive. Despertar no lugar onde não se deseja estar; lutar para sustentar o que resta para sustentar; voltar para casa com o corpo dominado pelo cansaço; jantar o que o dinheiro permitir; rezar ao pé da cama pedindo um futuro melhor e dormir poucas horas até o dia seguinte. Já vi muita gente questionar a felicidade e a fé de gente que não tem muita coisa, mas que anda sempre alegre e confiante em seu Deus. Eles respondem que é o único jeito de viver bem, mesmo quando o mundo os dá as costas, dizem que só o amor salva, que seja o amor pela vida.

Besteira, é impossível viver bem com pouco… Imagine! É uma rotina horrível quando vista dessa forma, mas olhando por outro lado, essa rotina não parece tão ruim. Ela ainda é a clássica de todos os empresários de sucesso, os grandes médicos… Despertar numa cama confortável; Estudar ou trabalhar num lugar de destaque; Voltar para casa e ter algum tempo livre; Jantar um prato cheio do que é desejado; Dormir novamente. Quem não quer viver assim, afinal?

Dinheiro é o único necessário para viver bem, então vamos lá, para mais um dia! Despertar numa cama confortável… Sozinho, estando ou não ao lado de alguém; Ir ao trabalho na maior empresa da cidade ou às aulas da melhor instituição… fazer cada tarefa como um mero robô, ou um animal domesticado, sem muito contato com as pessoas ao redor; Voltar para casa e se enterrar na frente da TV por não ter nada melhor a fazer para gastar o tempo livre; Jantar um prato cheio, no qual cada porção dá ânsia de vômito ou não parece grande coisa… Sem fome de novo; Ir para a cama desejando não acordar para o dia seguinte, tomando fôlego para enfrentar a insônia como gente grande. Quem não quer viver assim, afinal?

Mas tanto faz, olhando de longe, é basicamente a mesma rotina para todos e ninguém realmente se importa com o que cada um pensa à noite, se fizer o trabalho bem feito, não tem o que discutir. Nosso planeta nojento precisa continuar sendo o cinzeiro do universo, e os ratos engravatados precisam continuar no poder. Então seja uma boa pecinha e nem cometa o absurdo de começar a pensar. Desperte, vá trabalhar, volte para casa, jante, e durma.

Clarissa Dalloway (pseudonimo – 3H3)

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