Publicado em 31/10/14

8 de maio

Nos últimos dois dias, estive estudando meu anfitrião, o conde Drácula, de perto, e posso afirmar que nunca um cavalheiro me intrigou tanto. Seus movimentos silenciosos e calculados. Suas estranhas ausências nas refeições. Os suspeitos olhares que lançava para mim quando achava que eu não podia vê-lo.

Também não tenho dormido muito bem. Meu quarto é tão escuro quanto o céu nublado deste lugar, na recusa das estrelas e da lua de aparecerem. As cortinas estão rasgadas, como se um gato arisco as tivesse arranhado. A luz da lua entranha a negritude, assim como os uivos dos lobos que interrompem o silêncio. Certa noite, resolvi me levantar e vaguear pelo quarto, uma vez que não seria educado passear pela casa do meu anfitrião. Algum tempo depois, porém, ouvi um grito aterrorizado. Alarmado, saí do quarto para o corredor escuro, à procura da pessoa que aparentava estar apavorada.

Estava surpreendentemente quente naquela noite na Transilvânia. O corredor abafado e escuro. A cada passo, os gritos aumentavam, assim como o meu medo. Finalmente, o corredor virou à esquerda e revelou uma porta vermelha. Tentando ignorar o perturbador cheiro de sangue, abri a porta o mais silenciosamente possível. O quarto era mais escuro que o resto da casa, o que para mim parecia ser impossível. A temperatura caiu drasticamente; senti um calafrio subindo pela espinha ao observar o cômodo.

Fileiras de pessoas se encontravam penduradas na parede pelos pulsos. Manchas de sangue revestiam as roupas rasgadas. Alguns choravam baixo. Poucos murmuravam preces. A maioria só se mantinha em pé por causa das algemas, com a cabeça pendendo para frente e joelhos tremendo. O físico deles era deplorável, eram tão magros e pálidos que eu estremeci só de ver. Os poucos que estavam perto o suficiente para perceber o feixe de luz que entrara pela porta, tentaram esconder o rosto nos braços, como se a menor mostra de luz lhes machucassem os olhos.

O conde Drácula se inclinava sobre um prisioneiro, no canto do cômodo, com os proeminentes caninos à mostra. O sangue caía pelos cantos de seu rosto; o enjoativo som de sucção misturado com os lamentos do pobre homem.

Com o coração quase siando pela boca, lembrei-me da conversa que ouvira entre a estalajadeira e o cocheiro. “Vrolok”, eles não se cansavam de repetir.

“Vampiro”

Quis libertar todas aquelas vitimas. Quis matar o conde Drácula. Livrar o mundo daquela abominação. Mas só consegui sair correndo covardemente.

Voltei para o quarto ofegante. Apesar de querer fugir, tive de escrever esse relatos antes. Agora, tentarei fugir desse inferno, mas, se eu não conseguir, ao menos os crimes de conde Drácula contra a humanidade serão expostos.

Se eu conseguir escapar.

Julia Kim ( 8E)

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