Sobre sair da ilha e tomar café…

Publicado em 31/08/15

Começo este novo post justamente com a última frase da Carol no post anterior: É necessário sair da ilha para ver a ilha. Não nos vemos se não saimos de nós (José Saramago). No úlitmo post a Carol falou sobre a saudade…sim, a saudade é forte…sim, ela bate…sim, às vezes é sofrido… Mas, além da saudade, há uma outra coisa por aqui que também tem aumentado: a distância.

Esta idéia tem vindo recorrentemente à minha mente nestas últimas semanas. A distância que tem aumentado não é a física (que, obviamente, continua a mesma), mas sim a distância das situações, a distância das pessoas, da vida que a gente costuma levar. Isto tem suas vantagens e desvantagens, claro. Como já falado, dá saudade, dá sim um aperto no coração. Mas, no fundo, eu acredito que isto tudo nos faz muito bem.

Essa distância nos pensar e repensar muitas coisas. Não estamos mais na fase em que tudo aqui é novidade e, com isso, a mente que antes estava ocupada em processar um turbilhão de novas informações, agora tem um pouco mais de tempo e espaço para “deixar a poeira abaixar” e começar a processar algo mais profundo, mais elaborado. Colocamos à prova os nossos valores, os ideais, os hábitos, os propósitos, o jeito de ser e de encarar a vida. Olhando de longe, de “fora da ilha”, como tem sido a vida no Brasil? O que dela é realmente importante? Como vai ser quando retomá-la? O que é considerado importante lá é importante aqui também? Será que continuará a ser importante para o resto da vida? Um problema considerado grande lá, será que continua grande olhando de longe? E nossa, um problema que eu não enxergava enquanto estava lá, agora eu enxergo! Quantas coisas se passam na mente! No meu balanço geral (pelo menos por enquanto), eu acredito que eu até esteja indo bem na “vida brasileira”…a questão é que as coisas que eu mais mudaria (e tenho mudado) não são as circunstâncias, não são as atitudes, mas sim a minha postura, o meu interior. Como exemplo, duas das lições importantes que tenho aprendido no momento são: “às vezes o PROCESSO constante é mais importante que o PROGRESSO constante” (esta foi e está sendo bem difícil de entender e “digerir”) e “é necessário ter moderação com tudo…até mesmo com a moderação” (também popularmente conhecido como “é bom ser meio doido de vez em quando” rsrsrs). Enfim, são pensamentos “pequenos” mas que na prática fazem toda a diferença porque motivam e direcionam todo o restante das nossas atitudes.

Acredito que todo este processo faça parte do tão famoso “amadurecimento” que todos falam que o intercâmbio proporciona. Ainda tenho cerca de 4 meses aqui mas, se eu voltasse agora, eu já seria diferente. Com certeza há muito mais pra amadurecer, pra pensar e pra mudar nos próximos meses. Sei que o amadurecimento é um processo (não necessariamente um progresso) constante e que não vai parar mesmo quando eu voltar para o Brasil. E vale pontuar que também faz parte desse amadurecimento “à distância” desenvolver melhor o “espírito crítico”, que é tão falado e desejado na medicina e no mundo profissional. Será muito bom voltar para o Brasil sabendo avaliar melhor os pontos positivos e negativos da nossa medicina, do nosso país. Sem espírito crítico não há mudança, não há processo, não há progresso!

Pode ainda haver a dúvida: será que é necessário estar em outro país para pensar em tudo isto? Todas estas reflexões e aprendizados não poderiam acontecer mesmo estando no Brasil? Acho que até seria possível…mas o amadurecimento em outro lugar tem um gosto diferente, tem as suas peculiaridades. É como café (desculpe, mas como uma boa aluna de medicina, eu sou uma “coffee lover” com orgulho rsrsrs)…o café em cada lugar do mundo tem um gosto característico, exclusivo. Um café do Kilimanjaro é diferente de um café da Itália, que é diferente de um café da Tanzânia. Pode-se tomar um excelente café brasileiro, mas ele ainda assim será diferente de um excelente café colombiano. Ambos podem ser igualmente bons, mas eles nunca terão o mesmo gosto. E só consegue diferenciá-los quem desenvolve um paladar mais apurado. Do mesmo modo, o amadurecimento no país de origem é bom, é válido e também tem uma mesma excelência em potencial. Mas o amadurecimento em outro país, imerso em outra cultura, não tem como ser exatamente o mesmo…há uma importante peculiaridade envolvida. E só consegue identificá-la e diferenciá-la quem “apura o paladar”.

E por que estou falando tudo isto? Por que expôr meus pensamentos e meu mundo interior, e não apenas contar os fatos que ocorrem num intercâmbio? A resposta é porque justamente esta é a proposta deste blog: tornar conhecido aos alunos tudo o que se passa com um intercambista, mostrar tudo o que se transforma, todos os processos que ocorrem, inclusive as percepções mais subjetivas.

Portanto, eis a conclusão disto tudo: se puder sair da ilha, saia. Mesmo que seja para voltar para a ilha depois de um tempo. Sempre que puder, tome “cafés” diferentes para apurar o seu “paladar”. Você, estudante, que pensa em fazer um intercâmbio, é bom que saiba (e espere) que certamente voltará diferente…não apenas as circunstâncias da sua vida exterior e sua “bagagem cultural” vão mudar, mas VOCÊ também vai mudar. E isto é maravilhoso, com certeza vale a pena.

 

 

Temas relacionados:
Compartilhe por aí!
Use suas redes para contar o quanto o Band é legal!

mais de Do Band a Harvard